Pesquisa

Resumo das pesquisas em andamento 2020.1

O Incom tem como atividade regular a apresentação das pesquisas em andamento. Neste semestre, serão apresentados os projetos de pesquisa dos doutorandos pesquisadores do grupo que entraram em 2019 no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Linguagens (UTP). A atividade tem objetivo de compartilhar as pesquisas em andamento, possibilitar debate e contribuições aos projetos e prepará-los para o Seminário dos Doutorandos. Abaixo estão os resumos provisórios das pesquisas.

Olhares ao invisível: discurso e vulnerabilidade na autoexposição do corpo feminino

Doutoranda: Bany Narondy Cabral  | Orientação: Angie Biondi

Resumo: Pensar sobre a comunicação em rede e comunidades, nos leva a refletir sobre como os indivíduos se relacionam enquanto grupos de interesse, identificando-se com as mesmas causas e incorporado valores em comum às narrativas. A mediatização da vida cotidiana e a crescente participação em comunidades e grupos através de plataformas digitais são indicativos importantes a esta compreensão, hoje, uma vez que ampliaram a possibilidade de compartilhamento de diversas experiências pessoais antes restritas à esfera íntima e privada. Um dos reflexos destas mudanças é a forma como as redes sociais têm se colocado como espaços de visibilidade e enunciação dos sujeitos ordinários, que encontram nestes lugares, espaços de afirmação de identidades e atuação de agendas sociais. Pautas ligadas ao feminismo, por têm evidenciado suas temáticas cada vez mais presente na esfera digital. Nesta direção, encontramos práticas comunicacionais, sobretudo em grupos e coletivos on-line, que se destinam às discussões de gênero, onde mulheres promovem diálogos e discutem a respeito de suas próprias experiências. Dentre este amplo universo de mídias sociais onde acontece parte da multiplicidade desses diálogos, a presente pesquisa chama atenção o crescente número de contas no Instagram, hashtags, e aplicativos utilizados para mediar debates e abrigar narrativas de mulheres que, em muitos casos, protagonizam, nas redes, a constituição de espaços de troca, escuta e compartilhamento de vivências. No material empírico das postagens verificamos relações dialógicas a respeito de um assunto em comum: relatos de si e a violência de gênero. Assim, buscamos aprofundar nosso recorte nos textos e imagens feitas pelas próprias mulheres para acompanhar suas falas, sugerindo a vulnerabilidade como uma possível categoria de análise que emerge no contexto comunicativo no perfil da rede social, em torno da exposição do corpo feminino, além de verificar as políticas de visualidade nas quais os discursos estão inseridos. O enfoque da pesquisa se baseia, teoricamente, em debates calcados nas implicações políticas (Conceição, 2009; Silva, 2008; Segato, 2011) e suas configurações em redes (Recuero, 2009; Mouffe, 1995; Marques, 2007), pautadas nas narrativas autobiográficas (Rago, 2013; Butler, 2015; 2018; Foucault, 2004; Hall, 2009).

Palavras-chave: Corpo feminino; Discurso; Violência de Gênero; Redes Sociais Digitais.

Projetos de longo prazo no fotojornalismo: lugares de subjetivação na fotografia informativa

Doutorando: Fernando Artur de Souza Orientação: Kati Caetano

Resumo: Longe de serem conceitos pacificados, fotojornalismo e fotodocumentarismo podem ser diferenciados por meio de sua finalidade, por seu processo construtivo ou até pela sua forma de circulação. Entretanto, em meio às suas crises, as últimas décadas nos permitiram observar um movimento de convergência entre estas duas práticas. Temos nos projetos de longo prazo do fotojornalismo contemporâneo um ambiente privilegiado, ainda que não exclusivo, para pensarmos espaços de subjetivação, de experimentação, de narratividade e de autorialidade na fotografia jornalística, que passa a assumir em muitos momentos um caráter contemplativo e absortivo e, ainda que dedicada aos fatos e fenômenos do mundo, debruça-se também sobre o desenrolar e os desdobramentos destes fenômenos. Escolhemos observar esta prática por meio do prêmio conferido anualmente, desde 2015, pelo World Press Photo à três projetos fotojornalísticos de longo prazo. Em meio a uma vasta produção comissionada ou independente de histórias sendo contadas por meio da fotografia, a escolha deste prêmio como objeto empírico do estudo tem também o objetivo de refletirmos sobre como estas histórias recebem validação institucional. Servirão de base teórica as propostas de Ritchin para o fotojornalismo na atualidade, Didi-Huberman e nossa postura diante da imagem, Rancière e a ocupação dos lugares de discurso por parte destas fotógrafas e fotógrafos.

Palavras-chave: Comunicação; Fotografia; Fotojornalismo; World Press Photo.

Enunciações de autistas nas redes sociais digitais: relatos de si e a luta pelo reconhecimento da neurodiversidade

Doutorando: Igor Lucas Ries | Orientação: Angie Biondi

Resumo: Essa pesquisa analisa as enunciações de autistas nas redes sociais digitais. A seleção do recorte temporal abriga a análise de perfis de sujeitos nascidos até o final da década de 90, quando surgiu a classificação do autismo como transtorno de amplo espectro (TEA) e que, portanto, vivenciaram esse período de conflitos, conquistas e descobertas. Tem como objetivo compreender como ocorrem as articulações discursivas dos autistas nas redes digitais, seus relatos, além de identificar de que forma os seus pleitos pelo reconhecimento da neurodiversidade têm sido expostos, questionados, revistos e não apenas superficialmente mencionados num ambiente fluido e variável como o digital. Para a identificação destas demandas será realizado um atento levantamento e análise das publicações de 12 atores sociais autistas, nas suas páginas de redes sociais digitais (RSD). O corpus teórico é constituído por teorias sobre o movimento da neurodiversidade (SINGER, 1999) e vulnerabilidades (FERRARESE, 2016; BUTLER, 2016). Apoia-se no reconhecimento intersubjetivo de Axel Honneth (2003), sua ideia complementar de reificação (HONNETH, 2018) as implicações ambivalentes contrastadas por Butler (2018). Compreende ainda o contexto discursivo, de poder e normalização (FOUCAULT), as vozes e figuras que participam do processo discursivo (FIORIN), bem como pelos espaços conversacionais digitais de esfera pública (MARQUES, 2006) usados nas negociações civis em torno da formação do capital social (RECUERO, 2014) para o autismo. Espera-se, portanto, encontrar intenções, recursos e significados que conduzam à construção de uma tese: as articulações sociodiscursivas de autistas nas redes digitais, seus relatos e significados que traduzem a luta pelo reconhecimento das suas atipicidades.

Palavras-chave: Autismo; Enunciação; Neurodiversidade; Reconhecimento; Vulnerabilidade.